Justiceiros virtuais usam mouse como arma na China
(A onda de policiamento virtual começou em fevereiro de 2006)
Muitos chineses têm apelado para o mouse no lugar da polícia quando querem combater situações que consideram injustas. O fenômeno já ganhou nome e tem unido justiceiros online pelas mais diversas causas.
As ações são conhecidas pelo termo “Jiu Bu Linn”, o que pode ser traduzido de forma livre por “mandados de prisão”.
A ferramenta de acusação, condenação e punição em geral é o e-mail, mas muitas vezes as consequências podem ir além do mundo virtual.
Os “mandados” eletrônicos começaram a ser debatidos no país no ano passado, depois que um caso relatado pela agência de informação do governo, a Xinhua, ganhou destaque nacional.
Na época, os alvos foram uma mulher e um fotógrafo que fizeram uma sequência, publicada na internet, na qual ela enfiava o salto de um sapato na boca e nos olhos de um gatinho.
Revoltados com as imagens, um grupo de internautas lançou seus ataques: dados pessoais foram divulgados pela rede, acompanhados de insultos e mensagens iradas contra os dois.
Mesmo após pedirem desculpas pela internet, os dois acabaram perdendo seus empregos, aparentemente por causa da polêmica.
Uma busca no site Baidu.com, o maior do país, pela palavra "Jiu Bu Linn" resulta em mais de 50 mil links sobre o assunto. Entre os casos mais comuns estão pessoas reclamando que tomaram calotes de ex-amigos, filhos acusando pais de abandono e mulheres denunciando namorados infiéis.
Na opinião do especialista em sociologia criminal chinesa da Universidade de Hong Kong Borge Bakken, o fenômeno pode ser entendido como uma transposição de tradições que já existem em partes do país há muito tempo.
“O sistema legal da China continua muito influenciado pelo princípio de ‘apaziguar a raiva do povo’, um princípio de retribuição conhecido como ‘minfen’”, disse à BBC Brasil o professor Bakken.
Segundo ele, há na China uma forte tradição coletiva de “dar o troco”, de revidar ao que é entendido como injusto. Ele conta que ainda hoje é comum em áreas rurais uma outra prática, conhecida como “majie”, que significa denunciar e punir publicamente alguém gritando xingamentos para essa pessoa na rua.
A febre das perseguições online é uma manifestação de “minfen e majie”, acredita Bakken.
Para o sociólogo Kwok-fai Ting, da Universidade Chinesa de Hong Kong, "falta controle na internet” para impedir a ação dos justiceiros.
“Qualquer um pode publicar qualquer coisa com provas ou sem provas e não precisa ser responsável por esse conteúdo. Não existe mais inocente até que provem o contrário”, afirma o professor.
Mas há quem acredite que o fenômeno não é negativo e afirme que os atacados podem recorrer à Justiça para se defender.
Na opinião do professor de direito da Universidade Chinesa de Ciências Políticas de Pequim Liu Xin, a prática online pode contribuir para melhorar a “moral social”.
Em uma entrevista à Xinhua, ele citou como exemplo de reação um caso julgado por um tribunal de Pequenas Causas da capital. Nesse caso, a vítima acusava seu ex-empregador de ter emitido um “mandado de prisão” para difamá-lo.
Durante uma disputa trabalhista, o ex-empregador, um centro educacional de Pequim, publicou um “mandado de prisão” no seu site chamando o atacado de "bandido" e pedindo para os internautas atormentá-lo.
A corte declarou a pessoa atacada como vítima de difamação e ordenou o centro educacional a se desculpar publicamente e pagar 20 mil yuan (cerca de R$ 5 mil) por ter causado estresse emocional.
Nesse caso, pelo menos, a justiça do tribunal prevaleceu sobre a da internet.
As ações são conhecidas pelo termo “Jiu Bu Linn”, o que pode ser traduzido de forma livre por “mandados de prisão”.
A ferramenta de acusação, condenação e punição em geral é o e-mail, mas muitas vezes as consequências podem ir além do mundo virtual.
Os “mandados” eletrônicos começaram a ser debatidos no país no ano passado, depois que um caso relatado pela agência de informação do governo, a Xinhua, ganhou destaque nacional.
Na época, os alvos foram uma mulher e um fotógrafo que fizeram uma sequência, publicada na internet, na qual ela enfiava o salto de um sapato na boca e nos olhos de um gatinho.
Revoltados com as imagens, um grupo de internautas lançou seus ataques: dados pessoais foram divulgados pela rede, acompanhados de insultos e mensagens iradas contra os dois.
Mesmo após pedirem desculpas pela internet, os dois acabaram perdendo seus empregos, aparentemente por causa da polêmica.
Uma busca no site Baidu.com, o maior do país, pela palavra "Jiu Bu Linn" resulta em mais de 50 mil links sobre o assunto. Entre os casos mais comuns estão pessoas reclamando que tomaram calotes de ex-amigos, filhos acusando pais de abandono e mulheres denunciando namorados infiéis.
Na opinião do especialista em sociologia criminal chinesa da Universidade de Hong Kong Borge Bakken, o fenômeno pode ser entendido como uma transposição de tradições que já existem em partes do país há muito tempo.
“O sistema legal da China continua muito influenciado pelo princípio de ‘apaziguar a raiva do povo’, um princípio de retribuição conhecido como ‘minfen’”, disse à BBC Brasil o professor Bakken.
Segundo ele, há na China uma forte tradição coletiva de “dar o troco”, de revidar ao que é entendido como injusto. Ele conta que ainda hoje é comum em áreas rurais uma outra prática, conhecida como “majie”, que significa denunciar e punir publicamente alguém gritando xingamentos para essa pessoa na rua.
A febre das perseguições online é uma manifestação de “minfen e majie”, acredita Bakken.
Para o sociólogo Kwok-fai Ting, da Universidade Chinesa de Hong Kong, "falta controle na internet” para impedir a ação dos justiceiros.
“Qualquer um pode publicar qualquer coisa com provas ou sem provas e não precisa ser responsável por esse conteúdo. Não existe mais inocente até que provem o contrário”, afirma o professor.
Mas há quem acredite que o fenômeno não é negativo e afirme que os atacados podem recorrer à Justiça para se defender.
Na opinião do professor de direito da Universidade Chinesa de Ciências Políticas de Pequim Liu Xin, a prática online pode contribuir para melhorar a “moral social”.
Em uma entrevista à Xinhua, ele citou como exemplo de reação um caso julgado por um tribunal de Pequenas Causas da capital. Nesse caso, a vítima acusava seu ex-empregador de ter emitido um “mandado de prisão” para difamá-lo.
Durante uma disputa trabalhista, o ex-empregador, um centro educacional de Pequim, publicou um “mandado de prisão” no seu site chamando o atacado de "bandido" e pedindo para os internautas atormentá-lo.
A corte declarou a pessoa atacada como vítima de difamação e ordenou o centro educacional a se desculpar publicamente e pagar 20 mil yuan (cerca de R$ 5 mil) por ter causado estresse emocional.
Nesse caso, pelo menos, a justiça do tribunal prevaleceu sobre a da internet.
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